Neoliberalismo de saque<br> e questão agrária

Jorge Messias

«O Agronegócio procura manter o controlo sobre as políticas e sobre o território, conservando assim um amplo espaço político de dominação. Tudo quanto lhe é periférico é sugado pela sua ideologia. Um exemplo é a Reforma Agrária... Para impedir a concretização dos objectivos revolucionários de uma autêntica Reforma Agrária, o agronegócio criou no Brasil uma Cédula da Terra que deu origem, logo em seguida, à Reforma Agrária de Mercado e ao Crédito Fundiário» (Bernardo Mançano Fernandes, Universidade de S. Paulo, 2011).

«Com grandes sectores da população já muito abaixo do limiar da pobreza, a subida a curto prazo dos preços dos produtos alimentares é devastadora. Há, em todo o mundo, milhões de pessoas que se encontram impedidas de adquirir alimentos para a sua sobrevivência. Estes aumentos brutais estão a contribuir decisivamente para a eliminação dos pobres, através da morte pela fome. Dizia Kissinger: “Quem controla o petróleo, controla as nações pobres; quem controla os alimentos, controla as pessoas...” (M. Chossudovsky, professor de Economia da Universidade de Otawa, Maio de 2008).

«Ao converterem-se em sociedade civil, as ONG transformaram-se numa ferramenta ideológica ao serviço de uma agenda neoliberal. Abandonaram o discurso e as práticas dos anos 70 e, na qualidade de parceiras, aliaram-se ao Estado, aos mercados e ao grande capital. Foram, assim, forçadas a adoptar estratégias cada vez mais economicistas e apolíticas em relação aos pobres. A sua proclamada participação local nada mais representa que uma acção circunscrita a projectos pontuais em pequena escala» (James Petras, 2006).

Como arma de arremesso do neofascismo que a Nova Ordem Mundial contém ocultamente, o agronegócio deve mobilizar a nossa atenção. Principalmente quando, como em Portugal, o País está em ruínas e o poder político dominante se define, cada vez mais, como o inimigo principal do povo. A máquina de propaganda dos monopólios começa a revelar-se repetitiva e falha de imaginação. Precisa, urgentemente, de encontrar novas formas de convencer os pobres a não reagirem contra quem os explora; de recorrer aos números manipulados para mostrar que a economia está no bom caminho e que os monopólios são baluartes dos direitos e liberdades institucionais; e que as virtudes cristãs da Igreja neocapitalista provam à evidência que há milionários bons, alternativas privadas para o Estado social e formas efectivas de conciliar no capitalismo interesses de exploradores e de explorados.

Poderá parecer que esta análise pessimista exagera riscos simplesmente potenciais. Mas a situação que estamos agora a atravessar não é nova. Apenas difere de outras anteriores na sua dimensão e na sua capacidade destrutiva. O que aconteceu, outrora, aos povos colonizados escravizados pelo colonizadores, pode voltar a acontecer aos descendentes dos grandes senhores de então. Uma «camisa de sete varas» espreita os monopolistas.

Na perspectiva neoliberal da globalização imperialista, o primeiro grande alvo a atingir pelo agronegócio é, sem qualquer dúvida, a reconstituição e expansão do latifúndio, acompanhada pela extinção definitiva de quaisquer utopias de Reforma Agrária. Os agrários neoliberais apoiam-se nos monopólios da terra, no enlace entre áreas capitalistas diferentes, na arquitectura financeira, no controlo das tecnologias, na eliminação das conquistas sociais dos trabalhadores, no regresso ao nomadismo laboral, na extinção do Poder Local, etc. Na verdade, se o Agronegócio conseguisse vencer algumas destas batalhas nucleares, todo o poder ficaria em suas mãos durante mais do que um tradicional milénio!... Dito isto de outra maneira: para o neoliberalismo, o agronegócio é questão de vida ou de morte! A miséria que dele resulta é simples instrumento do poder. A fome ou a pobreza apenas têm aí o simples valor de moeda de troca.

A Reforma Agrária socialista é, pelo contrário, um projecto de esquerda de redistribuição da terra, em moldes nacionais, regionais e políticos que tenham em conta os direitos reais dos que trabalham e do pequeno campesinato e vise o objectivo principal de acabar com a fome e com a pobreza.

Não obstante o seu discurso calculista, o Vaticano e a hierarquia eclesiástica revelam-se como parte activa do agronegócio. E não se nota que haja, no interior da Igreja, força e vontade que tornem possível acreditar numa nova Teologia da Libertação.

 



Mais artigos de: Argumentos

O mau conselho

O telespectador ainda não totalmente formatado pelos conteúdos dominantes na televisão que lhe é fornecida ao domicílio e que de um modo ou de outro paga (quer pela chamada taxa do audiovisual quer pelo custo publicitário que, não o esqueçamos, é integrado...

José Saramago – É preciso recomeçar a viagem. Sempre.

«-Vivemos entre os homens, ajudemos os homens. – E que faz o senhor para isso? – Conserto-lhes os sapatos, já que nada mais posso fazer agora.» In Claraboia1 No mês em que se cumprem, e assinalam, 4 anos da morte de José Saramago; no mês em que se estreia mais um...